TUDA - pap.el el.etrônico

Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano I Número 9 - Setembro 2009
Conto - José Geraldo de Barros Martins



Aconteceu no Supermercado

Aquele carrinho de supermercado repleto de mercadorias era, definitivamente, a gota d'água. Charles de Larbeau, não suportava mais sua mulher Jeanne. Bastava ela

começar a falar demais que ele imediatamente começava a tamborilar sobre o encosto da cadeira, sinal para que ela calasse a boca. Se ela demorava na banca de jornal

folheando revistas de jardinagem, bastava um estalo de dedos dele para que ela baixasse a cabeça e colocasse a publicação no lugar. Enfim, todo este comportamento de

Charles não era gratuito: há vinte anos atrás ela perdera a única filha do casal nas ruas de Paris. entrou em uma boutique no Faubourg Saint-Honoré e esqueceu a

criança do lado de fora. Quando saiu com as compras, nada da filhinha. A partir daí o nosso protagonista passou a desdenhar de sua cara metade. Mas, o que mais o

irritava era fazer o supermercado com ela. Criticava o seu consumismo.

Naquela tarde ficara no estacionamento ouvindo a "Sinfonia Inacabada" de Schubert, dentro do carrão importado, e ao entrar no supermercado viu o tal carrinho.

- Quanta porcaria!!! O que é isto??? O que é esta laranjona???

- É pomelo, a fruta de que é feito aquele suco que você tanto gostou no café da manhã do nosso hotel em Bariloche, lembra???

Ele não disse nada. Ficou por um momento olhando para o teto, observando as luminárias fluorescentes corretamente dispostas. Depois num gesto de fúria, lançou o

pomelo pelos ares e acertou um chute conhecido no meio futebolístico por "sem-pulo". O fruto acertou o rosto de uma linda garota (que usava um vestido lilás com
detalhes em verde-turquesa), ela para não cair no chão apoiou-se em uma prateleira derrubando as mercadorias pelo chão. O alvoroço fez com que os seguranças

chegassem ao local e imobilizassem Charles com golpes de jiu-jitsu. A garota do vestido lilás vendo seu agressor naquele estado, percebeu que em seu dedo mindinho

havia um anel com uma esmeralda em forma de escaravelho, e então gritou:

- Soltem este homem!!! Ele é meu pai!!!

- Charlote, é você??? Disse Jeanne.

- Sim mamãe, sou eu!!! Nossa, como vocês estão diferentes. só reconheci papai por causa do anel.

Charles, depois de se refazer do entrevero, olhou para Jeanne e citando seu xará Baudelaire disse:

- Ah! meu caro anjo! Quanto lhe sou grato pela minha habilidade!