TUDA - pap.el el.etrônico

Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano I Número 9 - Setembro 2009
Tradução - Eduardo Miranda

O "eresiak" (canções fúnebres em "euskara", a língua basca), são cantos fúnebres medievais, um legado poético de uma certa aristocracia guerreira do País Basco na Idade Média tardia. Os textos que sobrevivem até hoje (raros, infelizmente), são produto de uma longa tradição oral. Os elogios ao falecido geralmente incluíam críticas e acusações, e foram proibidos pela Igreja e por autoridades civis. Em Euskadi (País Basco), eram as mulheres quem sempre cantavam. Nesta canção abaixo intitulada Milia Lasturkoren (Emília de Lastúria), os quatro primeiros versos são cantados pela irmã de Emília. Os dois seguintes são a retruca da irmã de Pedro Garcia, e os dois últimos é a conclusão da irmã de Emília.

Eis o plot: depois de Emília de Lastur ter morrido ao dar a luz, sabe-se que seu marido Pedro Garcia de Oro casou-se com Dona Maria de Arrazola, por quem ele já se encantara anteriormente. Uma das irmãs de Emilia fica furiosa com a notícia, e viaja de Deba para Arrasate para cantar o seguinte canto-lamento no enterro da irmã, como era costume naqueles tempos...

Vicent Van Gogh's Funeral in the Snow Near the Old Tower,
Drawing, Black chalk, pen, brown ink, washed - December, 1883


Emília de Lastúria
Anônimo, século XV

Qual é a ferida da mulher parida?
Maçãs assadas ao vinho tinto, querida,
Mas contigo é diferente, Emilia:
sob a terra fria, por uma laje protegida.

Deves ir para Lastúria, Emilia.
O senhor seu pai toca o instrumento,
A senhora sua mãe prepara o saimento.
É pra lá que tens que ir, Emilia.

Caiu do céu um grande granito,
atingindo a torre de Lastúria,
partindo-a ao meio com fúria
Tens que ir Emilia, se tens juízo.

Emilia de Lastúria, precisas saber,
Pedro Garcia tem se mostrado um canalha,
Com Maria Arrazola foi ele se meter,
Que se casem, que são ambos da mesma laia.

Mas Pedro Garcia nada tem a dever
a tamanha tragédia e funestação,
e lá dos céus mandaram-lhe dizer
que ajudasse a carregar o caixão

Bom marido, jovem e honrado
vivia em casa de enormes portões,
possuía bens aos montões,
Sempre comedido e bem-comportado.

Emilia de Lastúria, sinceramente,
o mensagero não agiu honestamente.

Caiu do céu uma viga agora,
bem no topo da torre de Lastúria,
matou o senhor e a senhora,
ambos em momentos de luxúria.
Aos céus enviamos uma bolsa de moedas
Mandem de volta a senhora de pára-quedas

Tenho tomado ódio por Arrasate,
Que tem tratado mal as mulheres de Gipuzkoa:
Maria de Balda na Rua Iturriotz,
Otxanda de Gabiola na Rua Artekale,
Emilia de Lastúria, no bairro todo.

Milia Lasturko
Anonimoa, XV mendea

Zer ete da andra erdiaren zauria?
Sagar errea, eta ardoa gorria.
Alabaia, kontrarion da Milia:
Azpian lur hotza gainean harria.

Lasturrera behar dozu, Milia.
Aita jaunak eresten dau elia,
Ama andreak apainketan hobia.
Hara behar dozu, Milia.

Jausi da zerurean harria,
Aurkitu dau Lasturren torre barria,
Edegi dio almeneari erdia.
Lasturrera bear dozu, Milia.

Arren, ene andra Milia Lasturko,
Peru Garziak egin deusku laburto:
Egin dau andra Marina Arrazolako.
Ezkon bekio, bere idea dauko.

Ez dauko Peru Garziak beharrik
Hain gatx handia apukaduagatik,
Zeruetako mandatua izanik,
Andrariok hala kunpli jasorik.

Gizon txipi sotil baten andra zan,
Ate arte zabalean ohi zan,
Giltza porra handiaren jabe zan,
Honra handi asko kunplidu jakan.

Arren ene andra Milia Lasturko,
Mandatariak egin deust gaxtoto.

Zerurean jausi da habea,
Jo dau Lasturko torre gorea,
Eroan ditu hango jauna eta andrea,
Bata lehen, gero bestea.
Bidaldu dogu zeruetara kartea:
Arren diguela gure andrea.

Mondragoeri hartu deutsat gorroto,
Giputz andraok hartu ditu gaxtoto:
Iturriotz kalean andra Maria Baldako,
Arte kalean andra Oianda Gabiolako,
Errebalean andra Milia Lasturko.